Palavras em masala

É com grande agrado que partilho convosco um pouco mais da minha experiência no United World College of India ( mais conhecido por MUWCI) .

Espero que o Natal tenha sido recheado de doces e o Ano Novo de champanhe..ups, queria dizer uvas passas. Desde as minhas últimas palavras muita coisa se passou, muitas experiências foram vividas, muitos pensamentos foram pensados.

Encontro-me no meu segundo período em MUWCI mas gostava de partilhar um pouco das minhas últimas semanas antes de ter voltado a Portugal para as férias de Natal.

As minhas duas últimas semanas foram intensas. O colégio ja não era novo mas sentia que ainda havia muito por descobrir. Queria ir para casa mas tinha medo que, ao partir, ninguém de mim se lembrasse quando em Janeiro eu voltasse.

Voltar a Portugal acalmou-me o turbilhão de emoções. Nada que uma francesinha ou um pão com panado não resolva.

Regressar ao colégio foi ótimo. Uma agradável sensação de acolhimento abraçou-me no primeiro instante que aterrei.

photo 1 photo 2O meu quarto já não é um lugar estranho e vazio. Está repleto de boas memórias, pósteres e fotos. Finalmente tem aquele aconchego de “casa”.

O segundo período está a passar a correr. Ainda ontem cheguei e um mês já lá vai.

Os projetos fora da sala de aula começam a ganhar mais forma e o campus está repleto de novas atividades.

Apresentações orais abertas a todos os membros da comunidade, interagir com crianças fora do campus, produzir uma peça de teatro, preparar workshops para os meus futuros primeiros anos são alguns dos meus projetos atuais.

Mas nem tudo é novo e algumas atividades têm sido passadas ao longo dos anos pelas diversas gerações de alunos e professores.

Uma delas é a Semana Regional. Uma Região do planeta é selecionada e os alunos/professores naturais dessa área geográfica planeiam actividades relacionadas com a cultura dos países envolvidos.

A America (Norte, Centro e Sul) foi a primeira região a demonstrar a sua diversidade cultural.

Cada dia da semana teve um país associado e fomos convidados a vestirmos trajes regionais dos países em causa.

Todos os dias tivemos seções informativas ou debates sobre um tópico ou país específico e por duas vezes o jantar foi “especialmente à americana”.

photo 3No penúltimo dia tive a oportunidade de cozinhar comida Jamaicana e para terminar tão bela semana tivemos um show que envolveu dança, teatro e canto.

MUWCI desafia-me todos os dias. Oferece-me reflexões e novas teorias para debater.

É incrível como tudo o que se passa no mundo real tem mais que um significado agora que sabemos olhar com outros olhos.

Assim me despeço e vos deixo com o link de uma das cenas do teatro em que estou envolvida.

 

Francisca

Dois meses e meio de MUWCI

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Todos os dias em MUWCI (aqui por estes lados esta sigla pronuncia-se “Miuki”) todos os dias são diferentes, todos os dias aprendo algo novo.

Tenho que confessar que já há muito tempo que não me sentia tão cativada por aprender. Aqui, a nossa ignorância é confrontada diariamente mas a cada conversa, a cada aula ou discussão, algo novo vem ocupar esse vazio. Sei que soa um pouco clichê todo este paleio sobre a “escola” mas se há algo que gosto em MUWCI é este constante confronto com o que não sabemos e passamos a saber.

Outra característica maravilhosa que aqui vivo regularmente é o facto de poder receber notícias em primeira mão de quase todos os cantos do mundo. Por exemplo, a minha colega de quarto turca informa-me regularmente sobre os conflitos na Síria e não há jornal ou notícia que possa transmitir de forma mais concreta e precisa pois o que me ela me transmite é uma realidade e não uma especulação. O que se passa no mundo torna-se cada vez mais pessoal mesmo que nada me influencie directamente.

Tive a possibilidade de desenvolver bastantes teorias e conspirações globais quando, há três semanas atrás, parti em viagem com mais três colegas durante o primeiro Exeat. Entre 1 a 5 de Outubro quando ocorre o Gandhi Jyanti, um feriado indiano. Os alunos que não têm a possibilidade de festejar estes dias com as suas famílias têm a permissão de viajar durante esse período com a condição de não saírem do país. Este tempo de folga é chamado de Exeat. Foi a minha primeira “grande” viagem sozinha. Comprámos os bilhetes para as camionetas que nos levaram de Pune para Hampi e vice versa e nada mais. Os meus colegas já lá tinham ido o ano passado mas eu estava completamente de partida para o desconhecido. Chegámos a Hampi depois de 24 horas de viagem sem quartos ou reservas mas arranjámos estadia numa fantástica guest house meia hippie e lá pernoitamos por duas noites. Hampi é lindíssimo, rico em templos e vistas de morrer. Visitámos o templo macaco, várias vilas e um grande lago onde tentámos nadar mas sem sucesso.

No último dia os meus colegas compraram um vasto conjunto de instrumentos. Levámos para casa um didgeridoo, um ovo, uma flauta e um instrumento que ninguém sabe o nome. De  volta ao colégio tivemos tardes interessantes a praticar as nossas habilidades musicais.

photo 3Entretanto recebi a surpreendente notícia de que uma das minhas colegas de quarto entrevistou o Prémio Nobel da Paz indiano, Mr.Satyarthi, e a entrevista foi publicada no jornal regional. O mundo é tão pequeno! Quem diria que entre 1 210 193 422 de indianos (só na Índia) me iria calhar como colega de quarto uma estrela.

Outro de um dos mais marcantes momentos que vivi aqui foi o festival Diwali. É uma celebração indiana bastante importante. Durante alguns dias vários deuses são adorados e os festejos são recheados de luzes, cores e alegria.

Os funcionários da escola prepararam tudo para nós. Comida e bebida foi servida e alguns alunos prepararam atividades durante o dia e atrações durante a noite.

Despeço-me de vós com um sorriso na cara se mantendo a promessa de divulgar as minhas aventuras nesta linda bolha indiana.

Um sincero obrigada a todos vós que nos seguem e nos lêem,

Francisca Matono

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photo 1Aqui me encontro eu de novo pronta para vos manter a par das novidades internacionais.

Faz este sábado um mês exacto que cheguei a esta terra fantástica por muitos conhecida por Índia.

Recordo-me como se fosse hoje aquele instante em que, ao passar a segurança do aeroporto, uma hora antes de partir para Lisboa, que me apercebi ” Espera, eu estou a apanhar um avião para a Índia, para o outro lado do mundo”. A esse momento de pura reflexão acumulou-se o factos de não ter o check-in dos meus voos Lisboa- Dubai Dubai- Mumbai e de só ter 15 minutos para o fazer antes do meu segundo voo. A minha primeira grande viagem foi uma correria (literalmente) mas lá apanhei o avião 10 minutos antes do embarque. Tive que apanhar um comboio dentro do aeroporto no Dubai para me deslocar de um portão para o outro. Deviam ter visto a minha cara de espanto e fascinação!

Estas experiências são uma pequena parte das imensas que tenho vivido desde o primeiro dia que cheguei a MUWCI (Mahindra United World College of India).

Estou instalada na melhor Wada (uma das 5 zonas residenciais). Vivo em pleno hotel, com internet e casa de banho dentro do quarto, sinto-me uma rainha. Mas para que se precisa de um quarto quando os espaços exteriores do colégio são magníficos?photo 2

MUWCI está integrado numa reserva onde a biodiversidade reina em cada canto. Olhamos em redor e as montanhas parecem esculpidas por deuses de tão perfeitas que são. O silêncio mistura-se com conversas amigáveis entre grilos e pássaros que nos deleitam com as suas melodias. Contudo, os meus animais de eleição são os mosquitos. Ou melhor, eu sou o animal preferido deles pois só nas duas primeiras semanas consegui que eles me picassem 18 vezes na perna direita e 15 na esquerda (resumindo, 34 borbulhas). Tal como os mosquitos, toda a gente é bastante simpática. A primeira semana foi uma agitação só, mas pode ser explicada da seguinte forma “Nome, país, nome, país, nome, país, jogos na lama, caça ao tesouro, nome, país, jogos de comunicação e partilha de experiências e histórias, jogos na lama às 5 da manhã, nome, país”.

Contudo, o inglês nem sempre quer cooperar com a minha vontade de socializar e esconde-se por detrás dos meus dentes e infelizmente apercebo-me que não sou de fácil compreensão. Para alguém como eu, que nasceu a falar, esta quebra na comunicação não é fácil de lidar mas nada que o tempo não resolva.

photo 3As aulas já começaram. Não temos um horário fixo e para quem está habituada a viver na rotina desde o primeiro ao último dia de aulas, ainda não digeri por completo o facto de nunca saber que disciplina vou ter no dia seguinte, se tenho blocos livres, se tenho alguma actividade programada à última da hora. É óptimo poder experimentar todas as disciplinas, ter tempo para pensar nelas e o que pretendo delas. É fantástico quando podemos concentrar-nos no que realmente nos vai ser útil. Mesmo que por vezes com algum sono vou para as aulas entusiasmada e não com a sensação de “mas para que preciso eu disto? Eu nem vou para esta área!”. É um privilégio poder estudar num ambiente ambicioso mas estimulante, que desenvolve ao máximo as nossas capacidades individuais, um sistema feito para nós, estudantes.

photo 5Visitei locais fantásticos como as caóticas cidades de Pune e Paud, ambas relativamente perto do colégio. Visitámos as caves budistas em Karla e um forte em Tungi. Chegar ao forte foi interessante em vários sentidos. Sabia lá eu que caminhos enlameados e escorregadios podiam ser tão divertidos. Mas valeu a pena. O topo daquela pequena montanha coloca-nos numa realidade paralela, uma paz que só quem a sente a percebe, atingimos o nirvana por alguns segundos e apreciamos, vivemos, recordamos.

Aqui aprendemos algo novo a cada minuto, falamos do mundo como gente grande, criamos opiniões, estruturamos teorias.

As saudades ainda não passaram por aqui mas o cheiro do mar e um bom pão à portuguesa vinham mesmo a calhar.

photo 4Por agora é tudo e aqui vos deixo com as minhas aventuras de caloira.

Assim me despeço até uma próxima oportunidade.

Cumprimentos de uma portuguesa na índia.

Francisca

Escrevo-vos tarde mas não a más horas. Sei que quase toquei o prazo de escrita mas o meu atraso teve um motivo de peso que posteriormente irei desvendar.
Falta precisam1 - malaente uma semana para a minha partida. Tudo é uma emoção, tudo é vivido mais intensamente e as saudades começam a ganhar forma. No entanto, o tempo tem passado devagarmente rápido. A minha cabeça está num colégio do outro lado do mundo presa a um corpo ainda em terras portuguesas mas anseia energicamente a data de partida que nunca mais chega. Por outro lado, um corpo 100% português tem necessidades que a própria cabeça desconhece. Português que é português precisa de sol e mar, de estar com os amigos da praia, do café, da escola, do campo, a família de cá e a de lá, olhar para tudo com mais profundidade para que a distância não lhe venha turvar as memórias e as vivências. Tudo isto precisa de tempo mas aparentemente o tempo não é suficiente.
Como se não bastasse, junta-se a este paralelismo emocional um elemento chave que se pode resumir a: Francisca Matono que é Francisca Matono é um pouco (quase nem se nota) obcecada por organização temporal, emocional e tarefal ( tarefal = tarefas no geral, tudo o que se tem a fazer a nível caseiro, assuntos importantes como burocracias para a viagem, idas ao médico e VISTOS…). Sim, têm sido dias interessantes de gerir . Mas nada que um calendário tamanho A3 não resolva.
Planeei estes dias ao pormenor, cada hora foi pensada e marcada. Fiz duas listas, a “I must do” e a “I would like to do” e fico feliz por ter finalizado parcialmente todas as tarefas de ambas. Contudo, ainda há uma tarefa na primeira lista que não se encontra finalizada e que me tem preocupado de alguma forma, ela é “Fazer a mala” . COMO É QUE SE PÕEM 17 ANOS NUMA MALA? Como é que se põe um armário num rectângulo de plástico duro apenas autorizada a transportar 20 kg? Exacto, não se põe. Mas há questões que o meu lado mais feminino (diria mesmo, o meu lado mais à gaja) não consegue atingir com naturalidade.
2- pensoAssuntos sérios de parte, gostaria de partilhar com vocês uma de algumas experiências que (sabe lá deus porquê) não tinha colocado nas minhas listas. Estava eu a limpar o pó, tal fada do lar, quando, ao pegar num bibelot de vidro este resolve partir-se na minha mão e, com técnica de talhante, me retira um belo bife de dedo. Ainda pensei em tirar fotografias para vos mostrar a ferida em causa pois nada se compara a um bocado de dedo a balouçar mas achei que, se algo merecia um registo fotográfico, seria o Senhor penso que me fizeram no posto médico, e portanto, aqui vos deixo com a minha nova aquisição.
Agora que já vos “resumi” os meus últimos dias sinto-me no dever de vos explicar o porquê da minha demora. Vou simplificar, JÁ TENHO VISTO !!!!! O histerismo e emoção que deposito nestas 3 palavras deve-se ao facto de ter ganho uma dura e persistente batalha com a Embaixada Indiana. Esta लड़ाई começou dia 17 de Julho quando enviei para Lisboa o respectivo pedido de visto, passaporte e documentos associados e os senhores em causa resolveram acomodar essa bela documentação num monte até à semana passada. Bom, sendo eu um ser de paz, antes de partir para o ataque, liguei para os 5 números de telefone da Embaixada, mandei alguns emails para alguns endereços e liguei mais uma vez, liguei, liguei, liguei e liguei. Mas eles resolveram acabar com os emails e não me atenderam um único telefonema como quem diz “Ahahah vais ter que vir a Lisboa sacana”. Bem, foi a gota de água para mim. Na quinta-feira passada, reuni as minhas tropas (sim, a minha avó vale por vários batalhões) e partimos no primeiro alfa da matina em busca de um visto perdido. Eles ofereceram resistência até às 11:30 da manhã e, quando finalmente baixaram a guarda eu ataquei em força e fui pedir informações sobre o meu tesouro. A sorte deles é que a senhora era uma querida e acalmou a minha raiva o que me levou a na quinta-feira seguinte (ou seja, ontem) ir lá buscar o meu prémio, o santo visto! Queria que a minha participação no blog pudesse ter uma fotografia do meu primeiro visto/passaporte logo tive que esperar até o possuir, daí a demora.
Mas tudo isto são bons momentos a recordar. As verdadeiras feras destes tempos são as saudades antecipadas e o turbilhão de emoções que 3- Vistotemos que ir controlando e gerindo em nosso redor.
Deixo-vos com imensa energia e vontade de partir assegurando-vos que da próxima vez que aqui publicar tenho novas e fantásticas novidades para vos contar.
Beijos gaienses,
Francisca Matono